sexta-feira, 4 de novembro de 2011

MAIS DETALHES SOBRE OS TREMORES DE TERRA NA ZONA NORTE DO CEARÁ

Pela terceira vez neste ano, região verifica abalo de terra superior a dois graus na Escala Richter, conforme técnicos

Sobral. A população de Alcântaras, Meruoca e Sobral voltou a ser abalada por tremores de terra, na madrugada de ontem. A Defesa Civil de Sobral, através de sismógrafo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), anotou abalos superiores a dois graus em três horários seguidos: 2h19min, 2h20min e 2h28min. O maior foi às 2h19min com 2.5 graus na Escala Richter.


O subtenente Marcos Costa, da Defesa Civil de Sobral, revela, com base nas informações da UFRN, que o epicentro dos abalos foi na Serra do Rosário, ao lado da Serra da Meruoca, na fronteira das cidades de Alcântaras, Meruoca e Sobral. Ele foi ao local e verificou uma população já acalmada. "Nada de anormal", tranquiliza o subtenente, acrescentando que não foi anotada nenhuma vítima humana ou desabamento de casa.


Os tremores de ontem foram constatados pelo sismógrafo digital da Rede Sismográfica do Nordeste (Rsisne), instalado na base da cidade de Morrinhos, pois os aparelhos localizados em Sobral (Distrito de Jordão e na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-Embrapa-Caprinos) estão em manutenção.

Livramento

Este ano, foi o terceiro abalo maior que dois graus na Zona Norte. O primeiro verificado em 4 de abril, às 12h20, com 2.7 graus em Massapê, Meruoca, Alcântaras e Sobral, verificado pela estação de Massapê. O segundo em 8 de agosto, às 10h53, quando atingiu perto de 2.9 graus. Este abalo foi sentido em Sobral, Meruoca e Alcântaras e o epicentro foi novamente a Serra do Rosário. O tremor de agosto acabou sendo captado pela estação de Livramento (PB), que fica a 570 quilômetros do epicentro de Rosário.

Mas os abalos sísmicos na Zona Norte do Ceará estão se verificando com mais profundidade há quatro anos. Desde 2007, estes tremores começaram a se intensificar. O maior abalo anotado na Zona Norte até agora foi em maio de 2008, quando atingiu 4.3 graus. O epicentro foi novamente a Serra do Rosário e o tremor acabou sendo repercutido até Fortaleza, numa distância de mais de 200 quilômetros. Em 16 de abril de 2009 um tremor de 2.6 graus foi sentido além de Alcântaras, Meruoca e Sobral nas cidades de Massapê e Coreaú.

O maior tremor no Ceará foi anotado pela UFRN, em Pacajus, na Região Metropolitana de Fortaleza, em 20 de novembro de 1980, quando atingiu 5.2 graus. Já foram verificados abalos no Ceará em 39 dos 184 Municípios. Vinte e duas cidades são monitoradas diariamente. Os abalos mais constantes são em Alcântaras, Meruoca, Sobral e Massapê. Mas na Zona Norte, eles já foram sentidos também em Camocim, Forquilha, Granja, Groaíras, Irauçuba, Itapajé, Morrinhos, Senador Sá, Tianguá e Ubajara.

Falha geológica

O professor Joaquim Mendes Ferreira, da UFRN e coordenador da Rsisne, estuda os abalos no Nordeste há 30 anos. Segundo ele, o que ocorre na Zona Norte do Ceará é um fenômeno de falha geológica entre as serras do Rosário e da Meruoca. "São placas tectônicas ou litosféricas que se colidem e causam uma tensão nas bordas das placas. Daí a terra se balançar e provocar estes abalos", explica.

Perguntado se esta época do ano, com a chegada das chuvas, os abalos vão aumentar em frequência, Joaquim Mendes Ferreira, que é doutor em Geofísica, pela Universidade São Paulo (USP), diz que não há relação. "Os tremores não escolhem época do ano para acontecer. Não tem relação com as chuvas. O que há são movimentos da terra que acabam tendo devido a esta falha geológica, provocando os abalos", informa.

Ele acrescenta que há algum tempo não vem recebendo informações diárias dos abalos na Serra do Rosário, entre Alcântaras, Meruoca e Sobral. "Espero que na próxima semana, com o reparo dos aparelhos, que estão em manutenção, estas informações cheguem para a gente fazer um relatório de maior precisão. Mas, pelo que sei, os abalos pequenos são verificados rotineiramente aí".

Em 2009 e 2010 foram anotados mais de dois mil abalos com menos de um grau. "A atividade geológica aí é muito presente. Por isso, de vez em quando, ela volta a acontecer. E é por isso que mantemos estações aí", adverte Joaquim Mendes Ferreira.

São quatro estações na Zona Norte que medem os abalos. Duas no Município de Sobral (Jordão e Embrapa), uma em Morrinhos e outra em Massapê. Há promessa de instalação de mais seis nos próximos meses. Estes aparelhos serão instalados nos Municípios que seguem a Serra da Ibiapina até o Piauí.

O Brasil está situado numa intraplaca no interior da placa Sul-Americana, onde os tremores são mais suaves e menos intensos.

Para estudar estes abalos foi criada a Rede Sismográfica do Brasil. Ela é formada por especialistas da UFRN, da Universidade de Brasília (UnB), do Observatório Nacional e da Universidade de São Paulo (USP).

A rede foi dividida em quatro instituições que têm experiência em Geofísica. Cada uma delas fica responsável por monitorar uma área do Brasil. Elas são responsáveis por fornecer informações para órgãos como Defesa Civil, Petrobras e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A Rede fará parte do Centro de Monitoramento de Desastres Nacionais que será criado em Cachoeira Paulista (SP). A Rede tem 67 estações planejadas. São 15 da UFRN, 20 serão de responsabilidade da USP, 20 da UnB e 12 do Observatório Nacional.

Cada estação tem um sensor de banda larga e um acelerógrafo, dispositivos para o registro de vibrações sísmicas de diferentes intensidades. Uma antena 3G fornece a conexão com o resto da rede via Internet. É esta rede que está sendo instalada nos postos de Jordão e da Empraba-Caprinos, em Sobral.

"O Nordeste é uma zona bem sísmica, em que tremores de magnitude dois são sempre bem sentidos pela população. As pessoas ficam assustadas, e é preciso ter informações sobre o que está acontecendo", afirma o coordenador da Rede Sismográfica do Brasil, Marcelo Assumpção.

FIQUE POR DENTRO
Dicas de segurança

Quando ocorrer um tremor de terra, em primeiro lugar, proteja a si mesmo; apague rapidamente as fontes de fogo; abra a porta e assegure uma saída; se houve foco de incêndio, apague imediatamente; não saia correndo afobado para rua, procure agir com frieza; não se aproxime de vias estreitas e muros; procure ajudar o próximo, seja solidário; busque saber sobre o relevo do local onde mora; dirija-se à sua área de abrigo a pé; procure se basear em informações corretas, pois a verdade é uma só. Não se baseie em boatos.

MAIS INFORMAÇÕES 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Rede Sismográfica do Nordeste do Brasil, Campus
Lagoa Nova - Natal, (84) 3215.3796

Lauriberto Braga (Diário do Nordeste)
Repórter

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