sábado, 6 de novembro de 2010

ANTROPÓLOGO: Ataque a Nordestinos é desqualificação do voto do pobre

O coordenador do Laboratório de Etnografia Metropolitana (LeMetro), do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ), Marco Antonio da Silva Mello não vê traços racistas nas manifestações de discriminação a nordestinos, desencadeadas na internet após o anúncio da vitória da petista Dilma Rousseff.
Para Mello, boa parte delas tem origem nas históricas rivalidades regionais, que alimentam a "imaginação sociopolítica" e a literatura brasileiras. O pesquisador destaca ainda os "estereótipos nacionais", também presentes no debate, sobretudo, no anonimato das redes virtuais.

- As pessoas veem racismo em tudo que é lugar, por ignorância. Essas rivalidades existem. Eu diria que são rivalidades cultivadas. Tradicionalmente, você tem uma oposição anterior a essa em relação ao Nordeste, que era a entre Norte e Sul. Nordeste só vai existir no Brasil a partir dos anos 20. O que se tinha era nortista e sulista - explica, acrescentando: "Acho que, na atual conjuntura, ou seja, numa eleição como essa que acabamos de enfrentar, era muito esperado que isso tudo aparecesse e florescesse, sublinhando, com mais ou menos rigor caricatural, essa oposição".

Entre os argumentos dos que se manifestaram contra nordestinos na internet, o principal associa negativamente o voto aos benefícios do Bolsa Família. O coordenador do LeMetro identifica nisso um esforço para desqualificar o voto dos mais pobres, o que, segundo ele, foi na verdade uma "desqualificação inócua do presidente Luiz Inácio Lula da Silva".

- Esse é o ponto fundamental. Numa sociedade que era escravocrata até bem pouco tempo atrás, marcada por hierarquias, numa sociedade em que não há menor escrúpulo em se perguntar "Você sabe com quem está falando?", realmente, querem desqualificar o voto do pobre. Se pudessem, impediam quem não tem diploma na Sorbone de votar... Você tem isso o tempo todo, a ideia que os pobres dão o voto da fome, do estômago, não têm consciência, não são capazes de escolher e de discernir, como se essa decisão nas classes altas fosse sempre racional, não ocorresse porque o presidente é bonito, porque a mulher é maravilhosa, porque ele fala português corretamente.

Por Ana Cláudia Barros do Terra Magazine

Confira a entrevista completa no Portal Terra clicando AQUI.

Imagem da Jangadeiro Online

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