À medida que o pleito eleitoral se aproxima, vê-se que o xadrez político é bastante complexo. Logo no início do mês de setembro, Dilma assumiu a dianteira com larga vantagem sobre o seu adversário José Serra. Dias após a divulgação do caso Erenice, com a concomitante chegada aos noticiários das discussões religiosas sobre o aborto, ocorreu um recrudescimento em sua campanha. O recado do eleitor foi claro: Vamos levar à eleição para o segundo turno para analisarmos melhor os candidatos.
Uma coisa,entretanto, é paradoxal. Boa parte dos simpatizantes de Dilma, na última hora, votou na candidata Marina, até porque não simpatizavam com o Serra. Sabiam eles, todavia, que a Marina teria poucas chances de superar Serra e caminhar para o segundo turno. Deu que no deu: A eleição foi para o Segundo Turno e Marina obteve cerca de 20 milhões de votos.
Essa era a oportunidade que faltava para que a elite brasileira – que até hoje não engole o fato de um metalúrgico do nordeste ser Presidente da República – orquestrasse uma campanha sórdida de ataques à Dilma colocando em xeque sua capacidade administrativa, sua visão religiosa e , pasmem, até mesmo sua sexualidade. Nesse ínterim, o PT deixou que as artimanhas da grande imprensa se espalhassem, sem que para isso tenha tido uma reação à altura. O mais interessante é que o eleitor de Marina, sabidamente mais consciente, terminou sendo seduzido por esse enxoval de leviandades. E aí o PSDB sentiu-se confortável, voltou a respirar e passou a mirar o seu programa eleitoral em cima das fragilidades da candidata petista. Ora, para isso contou mais uma vez com a valiosa colaboração da pseudo imprensa, isto é, dos grandes oligopólios da comunicação brasileira, os quais se fartaram em mesa esplêndida durante a ditadura militar e mais recentemente no Governo do FHC.
Como resultado, avista-se um pleito eleitoral em que de um lado se defende à volta ao passado das especulações financeiras, do pires na mão, da injusta distribuição de renda, do monopólio do conhecimento; do outro lado tem-se a defesa da universalização do conhecimento, da superação da visão mercadológica, da socialização das riquezas através de programas de distribuição de rendas.
Se as diferenças são tão gritantes, o que leva o eleitor a optar, por exemplo, pela candidatura de Serra. Primeiramente é bom que se diga que nesse país se vota mais pela oportunidade de que pela visão crítica. Lula pecou ao escolher como sua candidata Dilma. Por incrível que pareça muitos eleitores tem sérias restrições de ser comandados por uma mulher. Outro aspecto: o PT calçou, durante a campanha do 1.º turno, um salto muito alto. Ora, se Lula só foi eleito em segundo turno porque esperar o contrário de Dilma. Além disso, seu programa eleitoral não soube explorar o catastrófico governo do FHC, exceto o Plano Real, que teria naufragado se não fosse a habilidade de Lula no início de seu governo.
Histórias à parte sem mais delongas. Agora chegou a vez da decisão. Digo, sem medo de errar, que na minha humilde análise Dilma ainda sairá vitoriosa. Vitoriosa, em parte, porque o resultado será apertadíssimo e isso implica visualizar uma divisão no pensamento dos brasileiros. Com isso se fere a legitimidade de sua candidatura e a confiança no seu governo.
Por outro lado, surge a pergunta: Se Lula é o Presidente mais popular da história do Brasil porque está tendo dificuldades em eleger sua sucessora? Uma resposta: Como a maioria dos líderes Lula pecou pela soberba. Subiu muito o alto e se deixou contaminar pelo poder. Escolheu para ser sua candidata alguém que não tinha brilho próprio, talvez por ser mais fácil de manipular(coisa que eu não acredito). Achou que sua vara de condão era suficiente para transformar pó em ouro. Aqui fica uma grande lição!
Entretanto, sabe-se que Dilma tem suas qualidades: capacidade de trabalho, sensibilidade feminina e determinação. Posso dizer o mesmo do Serra, exceto a sensibilidade. Na verdade, o grave da candidatura do José Serra é o projeto que ele representa, eivado pelos interesses de grupos econômicos, plutocratas e tudo aquilo que nesse país se pensou que tinha ficado para trás. Com o eleitor, a decisão.